Educação & Cultura

Entrevista – O ícone Evandro Teixeira

Fotógrafo por mais de 45 anos, Evandro Teixeira já expôs em vários museus e diversas capitais do Brasil e do mundo. Ele começou a sua carreira no Diário da Noite, em 1958, mas o ápice se deu a partir de 1962, quando foi trabalhar no tradicional Jornal do Brasil. Com a publicação dos livros: Evandro Teixeira – Fotojornalismo (1983), Canudos, 100 Anos (1997), O Livro das Águas (2002), Vou Viver (2005) e  68: Destinos. Passeata dos 100 mil (2008), Teixeira consagraria a sua rica obra.

Baiano da cidade de Santa Inês, o fotógrafo é portador de uma sensibilidade ímpar, e testemunha ocular da nossa história. Pelas suas lentes já foram registrados tanto momentos históricos quanto banalidades do cotidiano. Nesta entrevista Evandro Teixeira fala sobre as suas coberturas jornalísticas, as fotografias, o seu novo trabalho, entre outros temas:

Interior da Bahia – Evandro, fale um pouco do seu novo trabalho.

 

Evandro Teixeira – Pois é. A ultima vez em que estive em Juazeiro foi para falar da exposição sobre Canudos. E, na oportunidade, já havia começado a fotografar aqui, e eu continuo a fotografar pelo Brasil. Meu trabalho é um livro sobre pelada, sobre futebol que é arte no Brasil e Juazeiro é um lugar muito importante, muito forte nessa disputa do maior espetáculo do Brasil, que é o futebol. Já havia feito no Rio São Francisco, em Sobradinho, algumas fotos interessantes e agora sigo fotografando as peladas aqui na região.

IB – 100 anos de Canudos é o seu trabalho que mais me comove. Então, o que lhe motivou a fotografar Canudos?

 

ET – Pois é. Canudos é realmente um trabalho que eu considero da maior importância porque veio da alma, veio da minha avó, é uma história que me foi passada na infância contada por ela, que era do sertão da região de Canudos. E quando estudante, eu li Os Sertões de Euclides da Cunha, depois me tornei jornalista e pude realizar o sonho de viver e conviver com aquela gente que contou um pouco e participou da história que foi a Guerra de Canudos, uma das maiores histórias do Brasil. Fiquei por lá quatro anos na década de 90, e o livro foi lançado em 97, e depois de lançado poderia não mais voltar a Canudos. Mas foi uma coisa que me marcou tão profundamente, que eu volto lá todo ano pra rever amigos. Os velhinhos já morreram todos, mas graças a eles pude realizar aquele trabalho e a eles sou eternamente gratificado.

IB – Ainda nessa temática, o que você achou do filme Guerra de Canudos, de Sérgio Resende?

ET – Eu não gostei. Aliás, a maioria dos historiadores da Bahia não gostaram. Hoje eu faço parte do grupo de historiadores de Canudos e acho que ficou uma história muito a desejar, focou mais na tomada do exército, faltou contar mais a história a partir daqueles que viveram e sobreviveram à guerra. O filme foi um dos mais caros do Brasil, mas o Sérgio pecou em não mostrar a essência da guerra.

IB – E o Jornal do Brasil?

ET – Tô lá desde 1962. Esse foi um dos grandes jornais do Brasil, o mais moderno e dinâmico, embora hoje esteja decadente, como todos os jornais impressos, por conta da perda do mercado pela internet. Mas ainda continua sendo um dos grandes títulos, um dos grandes nomes do Brasil.

IB – E as propostas profissionais, Evandro?

ET – Já tive várias, inclusive para morar fora do Brasil. Mas eu sou um cara muito brasileiro e a minha convivência com o Jornal do Brasil, essa troca de amizade é simbólica. Nunca fui impedido de fazer nada, fiquei durante quatro anos em Canudos. Então, é um lugar que todo mundo tem carinho e gosta de trabalhar.

IB – Para você, qual a sua melhor fotografia?

ET – Eu acho que eu não vou dizer qual é a melhor, aliás, eu nem sei se todas são boas fotografias. Mas eu acho que, veja bem, eu fiz algumas coberturas importantes no mundo como a morte de Pablo Neruda, que eu fui o único, inclusive, a estar lá ao lado dele, vê-lo, fotografá-lo morto. Um momento importante na vida de um jornalista, um momento triste também por estar ali diante de um mito, de um dos nomes mais importantes da literatura mundial, prêmio Nobel da Paz. Mas eu acho que eu tenho uma foto que, pela sua simplicidade, pela sua ingenuidade, é uma das fotos que eu mais gosto, que é a foto intitulada “o casamento de Parati”. São duas figuras simbólicas que eu chamo de o jeca com o jeca casando na roça, em Parati, cidade histórica do interior de Minas. Essa é uma foto que já rodou o mundo e foi exposta em muitos museus.

IB – Como você se sente em saber que algumas de suas fotografias são consideradas marcos no registro da nossa história?

ET – É importante você participar dos momentos históricos no mundo e no Brasil, daquela nossa ditadura ferrenha e outros momentos. Eu acho que a fotografia tem esse momento histórico e ela serve exatamente para isso. Tem um período em que você registra fatos e acho que a fotografia é isso e a importância dela é justamente por isso.

IB – O que você achou da decisão do Supremo em relação ao Diploma do Jornalista?

ET – Eu acho que foi uma “berração”, e que esse nosso ministro, sei lá, é uma loucura. O importante é que tá havendo um grande processo no Brasil inteiro, já houve movimentações no Rio, vai haver outra passeata em Copacabana, já houve em São Paulo, na Bahia, tá havendo em Brasília e acho que essa discussão tem que sair do artigo. Então, eu não quero mais entrar em detalhes (risos), mas essa decisão foi uma “berração”.

IB – Em meio a tudo isso, qual a mensagem que você deixa para os futuros jornalistas?

ET – Que acreditem. Que não se desanimem. Eu acho que o importante é você acreditar naquilo que você faz, naquilo que você quer fazer. Temos que acreditar em nossa profissão. E deixa os malucos pensarem o que eles querem pensar e aquilo que eles querem fazer. Mas a gente tem que ser superior a tudo isso, e vamos trabalhar pra que sejamos superiores.

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