História

Especial – Há 71 anos morria Lampião

Passados 71 anos da morte de Lampião, a região nordestina não é mais a mesma das décadas de 1920 e 1930, mas outra forma de cangaço ainda sobrevive no meio da população. A chegada de estradas, escolas, energia elétrica e o avanço tecnológico não foi suficiente para eliminar a violência. Primeiro, porque as injustiças sociais ainda permanecem. Como nos tempos áureos do cangaço, o dinheiro ainda é o principal fator para definir quem está certo e quem está errado.

Segundo que, embora a civilização bata à porta dos mais distantes rincões do sertão nordestino, a droga avança de forma avassaladora, atraindo jovens para o mesmo precipício do tempo do banditismo. E o pior é que, se no tempo do cangaço havia um ambiente hostil e um movimento governista disposto a eliminar os bandidos que atemorizavam o sertão nordestino, hoje o que se vê é, se não uma conivência dos governantes, um pouco caso com o que se passa a um palmo dos seus olhos.

A história da morte

As mortes de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, completaram 71 anos nesta segunda-feira (28). Eles foram assassinados na Grota de Angicos, município de Poço Redondo, em Sergipe, durante uma emboscada montada pela volante comandada pelo sargento João Bezerra. Lampião e Maria Bonita se tornaram mitos da história brasileira e hoje são temas de livros, cinema, documentários, teses de mestrado, etc. 

No confronto de Angicos, outros nove cangaceiros foram mortos. São eles: Quinta-Feira, Luís Pedro, Mergulhão, Elétrico, Enedina e outros quatro que ainda permanecem desconhecidos, segundo o pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo. Todos os cangaceiros tiveram as suas cabeças cortadas e expostas como troféus na escadaria onde hoje funciona a Prefeitura de Piranhas (AL). A perseguição a Lampião e seu bando foi ordenada pelo então presidente Getúlio Vargas, que foi pressionado a acabar com o banditismo no sertão nordestino.

Depois da chacina de Angicos, os corpos dos cangaceiros foram colocados em cima de um caminhão e transportados para Maceió, capital de Alagoas. Antes de chegar ao destino, em cidades como Piranhas, Santana do Ipanema e Batalha, o caminhão parava para que a população pudesse ver os corpos dos cangaceiros. Depois de Maceió, foram transferidos para Salvador (BA), onde as cabeças de Lampião e Maria Bonita ficaram expostas no Museu Nina Rodrigues até 1969 como troféus.

Corisco, conhecido como o Diabo Loiro e braço direito de Lampião, por estratégia, não estava presente na emboscada de Angicos. Após saber da “tragédia”, ele prometeu vingança. Durante dois anos Corisco ainda cumpriu o prometido, mas, em 1940, baleado e já sem o mesmo número de cangaceiros para enfrentar “as volantes”, o cangaceiro foi morto no município de Barra do Mendes (Ba) juntamente com a sua companheira Dadá.   

Segundo o pesquisador Antônio Amaury, as cidades mais importantes para o Cangaço foram Vila Bela, hoje conhecida como Serra Talhada (PE), Jeremoabo (BA), Uauá (BA), Floresta (PE), Piranhas (AL), Delmiro Gouveia (AL), Poço Redondo (SE), Porto da Folha (SE) e Glória (BA). “Foram locais onde funcionaram as sedes das volantes ou de passagens de Lampião”, afirmou Corrêa.

Lembranças do Cangaço

Missas e eventos em memória do casal de cangaceiros devem ser realizados em cidades de pelo menos quatro dos sete estados onde há registros oficiais da passagem de Lampião. Segundo o historiador João de Souza, 43 anos, o cangaceiro Lampião circulou pelos estados do Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe. “Nestes quatro últimos é que a presença dele se fez mais marcante”, disse.

Em Serra Talhada (PE), terra de Lampião, todos os anos acontece o “Tributo a Virgulino”, quando reúne pesquisadores, estudiosos, professores, jornalistas e estudantes de todo o Brasil. Durante o evento, acontecem palestras de estudiosos do tema, debates, missa na casa onde Lampião nasceu e venda de produtos alusivos ao cangaço. 

Na cidade de Paulo Afonso (BA), onde nasceu e viveu Maria Bonita (na verdade ela nasceu em Santa Brígida, que pertencia a Paulo Afonso), a data é sempre lembrada por grupos folclóricos e pela secretaria de Cultura do município.

Em Poço Redondo (SE), terra onde nasceram vários cangaceiros, também acontecem muitas atividades. Uma missa na Grota de Angicos será realizada nesta segunda-feira (28), sempre com as presenças de Expedita Ferreira e Vera Ferreira, filha e neta de Lampião e Maria Bonita, respectivamente. Elas residem em Aracaju.

Vivos e mortos

Ainda existem alguns cangaceiros vivos. Em Buíque, Pernambuco, reside o Candeeiro, um dos que conseguiram escapulir da emboscada de Angicos. Em Maceió (AL), mora “Vinte e Cinco”, o José Alves de Matos.

Já Sila e Zé Sereno, que também escaparam de Angicos, já morreram. No ano passado, morreram também Durvinha e Moreno. O casal de cangaceiros fugiu para Minas Gerais depois da morte de Lampião. Durvinha morreu em 28 de junho de 2008, um ano após sofrer um acidente vascular cerebral.

Por Evandro Matos

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