Nesta sexta-feira (20), a partir das 15h, sairão do Curuzu, na Liberdade, com destino ao Pelourinho, mais de 50 mil pessoas num ato político-cultural comemorativo ao Dia Nacional da Consciência Negra e protestando contra a violência urbana, que mata diariamente, em todo país, centenas de jovens, sobretudo, negros.
Promovida pelo Fórum de Entidades Negras da Bahia, a Caminhada da Liberdade levantará este ano a bandeira “Basta de Violência”. Em meio aos tambores, músicas, danças, palavras de ordem, a Caminhada conclamará a população a mobilizar-se e encontrar estratégias coletivas, públicas, de enfrentamento da violência urbana.
Dados oriundos do Sistema Único de Saúde (SUS), apresentados na CPI da Violência Urbana, na Câmara Federal, revelam que o número de negros assassinados no Brasil é duas vezes maior do que o de brancos – apesar de cada grupo representar metade da população. Em 2006 e 2007 o número de negros assassinados alcançou 59.896 pessoas.
Entre os brancos, o número foi de 29.892 pessoas assassinadas. “A redução da violência urbana, todos sabem, depende de distribuição de renda e serviços públicos de qualidade, como saúde, educação, transporte, moradia, saneamento, enfim, os direitos básicos dos cidadãos, que não são plenamente atendidos no Brasil”, comentou Walmir França, dirigente do Fórum e do bloco afro Os Negões.
Participam do Fórum de Entidades Negras da Bahia ANAAD/ CEMAG/ AGANJU/ FENACAB/ OS NEGÕES/ ÓKAMBI/ ABADFAl/ CORTEJO AFRO/ MUZENZA/ MALÊ/ ILÊ AIYÊ/ APNs.
Navio Negreiro
Fechemos esta matéria com uma estrofe do poema Navio Negreiro, do poeta baiano Castro Alves, nascido em Curralinho, hoje Cabaceiras do Paraguaçu. Já no século XIX o poeta se preocupava com a problemática social e a perseguição aos negros escravos vindos da África.
Navio Negreiro, de Castro Alves
(…)
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
(…)
Por Josias Pires e Evandro Matos