História

Encontro de filhos e amigos de Canudos revive profecias de Antônio Conselheiro

Quase 115 anos depois, a profecia parece ter se concretizado, quando centenas de filhos de Canudos, descendentes de Antônio Vicente Mendes Maciel, amigos e filhos adotivos da terra se reuniram para trocar ideias, rever amigos e parentes e resgatar a história. Foi, pra sintetizar, a gente simples do sertão invadindo o litoral, ou fazendo o mar virar sertão, como profetizou o Conselheiro.

Com uma ornamentação típica, com fotos e trabalhos da região e uma programação caprichosamente antenada com os ideais conselheiristas, a noite do 1º Encontro Canudense foi completa para quem esteve presente. Além disso, a gostosa carne de bode e a cerveja bem gelada completaram a alegria do evento.   

Tudo começou por volta das 20 horas, com a apresentação da Companhia de Teatro de Canudos, que encenou uma peça revivendo os momentos finais do massacre de 25 mil almas. Tanto tempo depois, percebeu-se um público atento ao espetáculo e um semblante de revolta e indignação era percebido nos rostos de jovens e velhos descendentes conselheiristas.

Professoras homenageadas

A festa dos canudenses foi um resgate histórico e um teste de emoção. A homenagem às primeiras professoras do lugar, aquelas que educaram os primeiros filhos da segunda e da terceira Canudos, erguida às margens do rio Vaza Barris, foi algo de extraordinário.

Doze professoras subiram ao palco para receber uma placa em homenagem aos serviços prestados no histórico município. Não houve choro nem lágrimas, mas praticamente todas se emocionaram, agradecidas pela lembrança da Comissão Organizadora e deslumbradas pela festa.

Um dos momentos mais marcantes foi quando a professora Tereza Costa subiu ao palco para ser homenageada. Ex- funcionário do antigo DNOCS, ela fez um discurso firme e determinado, mostrando o que representou estas mulheres para a educação dos descendentes de Antônio Conselheiro.

O historiador e professor da Uneb, Sergio Guerra, ficou emocionado com as homenagens. “É o reconhecimento, mesmo que tardio, a essas mulheres sertanejas, que dedicaram vários anos de suas vidas à educação dos filhos de Canudos, mesmo enfrentando muitas dificuldades”, pontuou Guerra.

O cineasta Antônio Olavo, também entusiasmado com a festa e as homenagens para as professoras, fez coro às palavras de Sergio Guerra. Olavo, inclusive, doou para cada uma das 12 homenageadas um DVD do seu documentário “Paixão e Guerra no Sertão de Canudos”.    

Festa e poesia

Após as homenagens às professoras, o palco foi ocupado por outros artistas, como o poeta José Américo, que abriu com um brinde de versos inspirados no chão do Sertão de Canudos. Depois, vários grupos se apresentaram e a festa seguiu até o amanhecer do dia. O primeiro foi a Banda Laços (Gerinho de Canudos), que trouxe muita animação, principalmente quando cantou músicas dos anos 60. Depois, se apresentaram Bião de Canudos, Grupo Kambalacho e a Banda Strela do Baile (Pedro Moreno).

Como atração mais esperada da noite, Bião de Canudos não decepcionou ao seu povo. Quando ele começou a cantar a sua poesia conselheirista, misturada com o forró nordestino, não deu outra. Jovens e velhos se aproximaram do palco, deixando as mesas praticamente vazias.

Com a sua música, Bião simboliza o orgulho dos mais jovens e um patrimônio da terra para os mais experientes. “Ele canta a nossa cultura. É como se ele dissesse, na música, o que a gente quer dizer em nossas conversas”, disse um jovem canudense, atento á voz do artista.

Gente de todo lugar

Dava até para se perguntar: cadê José, cadê Maria, cadê tanta gente? Mas, isso, muito mais pela força da poesia do que pela ausência das pessoas. Na verdade, tinha gente de todo lugar. Os filhos da terra, os que continuam com os pés encravados no chão de Conselheiro e os que já ganharam o mundo para ganhar a vida. Quase todos estavam lá.

Gente como Luiz Paulo Neiva, pró-reitor da Uneb, os professores Sergio Guerra e Roberto Dantas (Uneb), o historiador Manoel Neto (Centro de Estudos Euclides da Cunha), o cantor e compositor Fábio Paes, o cineasta Antônio Olavo, o escritor Eldon Dantas Canário, os jornalistas Dalton Soares (TV Bahia) e o titular deste Portal, o pessoal dos sites Canudos Vip e Canudos Acontece, o presidente da União Pelos Ideais de Canudos-UPIC, João Evangelista Regis e sua esposa (que vieram de São Paulo), além do ex-vereador por Salvador José Carlos Fernandes, entre tantos outros.

Por fim, vale registrar o trabalho brilhante e oportuno da Comissão Organizadora, não só pela ideia do evento como pelo seu sucesso. E, para sorte dos que não foram, no próximo ano tem festa novamente. 

Por Evandro Matos – especial para o Interior da Bahia (Fotos: Evandro Matos/IB)

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