Nordeste

Adolescente chora lágrimas de sangue e médicos investigam causa em São Paulo

Em Meridiano, no interior de São Paulo, onde a estudante mora há dois meses, ela é conhecida pela população como “a garota que chora sangue”.

A jovem também relata que sangra em outras partes do corpo. O Hemocentro do Hospital de Base de São José do Rio Preto apura se esses sangramentos são decorrentes de uma coagulopatia (distúrbios da coagulação sanguínea) ou problemas emocionais. Um tipo de tumor é a hipótese mais remota. Só após o resultado dos testes a que ela será submetida será possível definir um tratamento.

Um médico de Meridiano, município de quase 5 mil habitantes, e o prefeito da cidade afirmam terem visto o sangramento em Débora Oliveira dos Santos, de 17 anos. A mãe da estudante, que deixou o Ceará com a família em busca de um tratamento para a filha no estado de São Paulo, confirma a história. A prima encaminhou fotos que mostram os olhos da jovem sangrando. Um vídeo também foi postado na internet e exibe uma das crises da garota.

“Eu me controlo para não chorar. Não posso me exaltar bastante porque vou sangrar. Eu ainda não me acostumei. É muito chato eu não poder me expressar. Vou fazer prova, fico nervosa, choro e sai sangue. Alguns meninos e meninas ficam assustados e sentem nojo. Ficam longe de mim. Então eu fico meio que isolada dos demais. A minha sorte é que os professores são a melhor coisa da escola”, diz Débora.

Em entrevista, Débora conta que eventualmente falta às aulas quando ocorrem os sangramentos. “Há algumas semanas minha camiseta começou a ficar manchada na altura dos mamilos. Quando vi, estava sangrando. É horrível. Quando vou às aulas agora, uso algodão e sutiãs bem alcochoados”, diz a aluna da Escola Estadual Donato Marcelo Balbo.

Envergonhada, a garota conta que seu passatempo é ler livros ou jogar vôlei com os irmãos. “Adoro ler a saga do Crepúsculo. Também sou fã do jogador Giba, da seleção de vôlei. Acompanho todos os jogos do Brasil pela TV. Soube que ele também teve um problema no sangue na infância (leucemia) e se curou”, afirma a jovem, que quer ser professora de história.

Parentes contam que Débora começou a sangrar com 14 anos, quando trabalhava como babá e foi agredida por sua patroa no Ceará. Os sangramentos eram somente nos ouvidos e nariz.

Em novembro, a menina passou a sangrar também pelos olhos, couro cabeludo e mamilos, segundo a dona de casa Maria Gorete Oliveira dos Santos, de 43 anos, mãe da garota. E piorou quando o marido dela morreu afogado em maio, no Ceará, tentando salvar um dos filhos. “Foi a vez que Débora mais chorou e sangrou. Precisou ser internada porque já estava entrando num quadro de hemorragia”, conta Maria Gorete.

Relatos da família

De acordo com a família da adolescente, em Fortaleza os médicos suspeitaram de púrpura trombocitopenica idiopática (PTI), doença relacionada à coagulação do sangue, caracterizada pela diminuição do número de plaquetas. A PTI, que também pode ser chamada de púrpura trombocitopenica imunológica, quando estiver relacionada ao aparecimento de anticorpos que destroem as plaquetas, provoca sangramentos.

Os médicos cearenses prescreveram Transamin e Dexametasona para Débora tomar, segundo os parentes. Os medicamentos continuam sendo ministrados para controlar a coagulação sanguínea. Apesar disso, os remédios não acabaram com os sangramentos, segundo Maria Gorete.

“Como no Ceará os médicos não souberam dizer o que minha filha tem direito, e os remédios não trouxeram a cura, saí de lá e vim para São Paulo. Foram os próprios médicos cearenses que me disseram para vir a São Paulo tentar buscar alguma resposta para saber o que minha filha tem”, diz Maria Gorete, que mora ‘de favor’ na casa de parentes em Meridiano com mais cinco filhos.

Repercussão em Meridiano

Em Meridiano, um clínico-geral diz ter ficado “abismado” ao ver a jovem entrar no seu consultório. “Fiquei abismado quando vi o sangue escorrer pelos olhos dela porque ela aparentemente não tinha causa externa de arranhadura. Me indagava de onde vinha aquele sangramento”, afirma o médico Orlando Cândido Rosa Filho.

O prefeito de Meridiano, José Torrente (PTB), diz que a sua administração fará o que for possível por Débora. Ele conta que também ficou assustado ao saber do caso. “Eu nunca vi igual, saía sangue do olho, cabelo, para todo lado. É um trem que nunca vi. Ela se enervou e foi no banco da pracinha e chorou. Mas em vez de sair água saiu sangue. Se assustaram e ligaram para minha esposa, que socorreu”, diz o prefeito, que está oferecendo o medicamento.

A prima de Débora, Diana Viana de Oliveira, de 25 anos, técnica em enfermagem no Posto de Saúde de Meridiano, afirma que seus parentes que vieram do Ceará não têm muitos recursos. “Minha tia e meus primos ainda procuram emprego aqui. Alugamos uma casinha para eles, mas eles não possuem móveis, roupas”, diz Diana.

Hematologista

Procurado para comentar o caso de Débora, o hematologista Paulo Antonio Zola, patologista clínico e hematologista do Hemocentro do Hospital de Base de São José do Rio Preto, afirma que a adolescente será submetida a um mielograma, exame para investigar se a medula óssea tem algum problema na fabricação das células sanguíneas.

Segundo Zola, que não viu a jovem sangrar, quando as plaquestas deixam de coagular o sangue, há sangramentos por várias partes do corpo. “Sai por todo lugar, pelo nariz, gengiva, boca, urina. Não é que ela chora sangue, a lágrima vem com sangue. A saliva sai com sangue. Sai sangue da gengiva, ouvido, sai sangue do olho, intestino etc. Porque todo nosso corpo tem coagulação. Onde tem coagulação sai sangue. É incorreto afirmar que a paciente chora sangue. Ele chora lágrimas com sangue. Lágrimas maculadas com glóbulos vermelhos.”

De acordo com o médico, há registros de outros casos parecidos com os sintomas dos de Débora no Brasil e no mundo. Por esse motivo, é necessário analisar os exames que ela já realizou. “Os médicos cearenses fizeram um ótimo trabalho. O mais provável é que Débora tenha coagulopatia como causa do sangramento, mas também tem de ser investigado esse histórico dela de um possível problema emocional”.

Débora fará o exame no dia 4 de julho. Até lá, a jovem continuará passando por tratamento psicológico e tomando remédios para controlar a ansiedade e nervosismo. As informações são do G1.

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