Educação & Cultura

Especial – Família de Raul Seixas agora briga na justiça pelo seu espólio

Nos anos 60, o “vidente” da comunicação Marshall McLuhan profetizou: “O meio é a mensagem”. E a mensagem é, justamente, a herança mais valiosa transmitida pelo missivista do rock brasileiro – Raul Seixas (1945-1989).

 

A música foi o “meio” escolhido, veículo através do qual, por toda a vida e obra, Raul insultou o “monstro sist“. Hoje, contudo, refém de várias contendas judiciais pelo imaterial espólio, tem seu libelo asfixiado pelo mais complexo e surpreendente dos sistemas: a família.

Dos milhares de fãs de Raulzito, morto aos 44 anos, poucos sabem que ele deixou três herdeiras: as filhas Simone Vannoy (38) e Scarlet Vaquer (33), que vivem nos Estados Unidos desde crianças, e Vivian Seixas (27), que mora no Brasil. As duas primeiras, frutos da união conjugal de Raul com as norte-americanas Edith Wisner e Gloria Vaquer Seixas (hoje Sky Keys), respectivamente; a terceira, fruto do relacionamento amoroso com Ângela Affonso Costa, mais conhecida por Kika Seixas.

Além da abastada fortuna musical, Raul Seixas não deixou patrimônio significativo, sequer existe espólio aberto. Nesses 20 anos, tudo o que suas filhas herdaram consiste em direitos autorais – de execução e imagem – pagos ao longo dos anos. O astro baiano é o que se pode chamar de “long-seller“: verdadeiro fenômeno, absolutamente espontâneo.

Somente no mês de novembro, numa rápida pesquisa, cinco revistas de circulação nacional trouxeram matérias especiais sobre o artista baiano: Zé, Nordeste, Rolling Stones, Revista de História e Caros Amigos.

Antiga, a briga (que nada tem a ver com música) desenrola-se em um cenário “internacional”. Nos Estados Unidos, as sucessoras de Raulzito defendem o lançamento de vários projetos envolvendo a obra do pai – muitos dos quais vetados na Justiça por Kika Seixas, que hoje atua como procuradora legal da filha, Vivian Seixas.

A procuradora de Simone Vannoy, a advogada Flávia Vasconcelos, ressalta que as três herdeiras detêm todos os direitos de autor e conexos relativos à obra de Raul Seixas, assim como os direitos de uso de sua imagem e nome.

Na prática, pontua, significa que somente elas podem autorizar ou desautorizar qualquer projeto: “O equívoco ocorre porque muitos consideram Kika como viúva de Raul Seixas e, em consequência, detentora de tais direitos. No entanto, como não se casaram oficialmente, ela não é viúva dele”. Apenas Simone, Scarlet e Vivian são as legítimas herdeiras.

Sylvio Passos tira site do ar

Até Sylvio Passos, amigo fraternal e fundador-presidente do fã-clube oficial de Raul, teve de tirar do ar o site depois de, segundo ele, ser pressionado por advogado que representa Glória Vaquer, ex-esposa de Raul. O músico tinha carteirinha de sócio do próprio fã-clube.  

“Minha vida mudou radicalmente. Foram 30 anos sem férias”, diz Sylvio Passos. Pode-se dizer que ele foi um funcionário exemplar, mas não de qualquer empresa. Há três décadas, Passos criou o Raul Rock Club, mais relevante fã-clube dedicado a Raul Seixas. Hoje, o site está desativado. “A iniciativa de tirar o site do ar partiu de mim mesmo”, explica o fã de 46 anos, que diz ter tomado a decisão após, segundo ele, receber um e-mail do advogado que representa uma das ex-mulheres do músico.

Na mensagem, seria solicitado um relatório sobre quanto Passos ganhava com o trabalho. Após negar passar tal informação (“Disse que só daria satisfação se o pedido partisse das três filhas do Raul, as verdadeiras herdeiras”, conta), veio a resposta: nenhum projeto envolvendo seu nome e de Raul Seixas seria aprovado.

Recentemente, uma divergência entre Kika Seixas e o biógrafo Edmundo Leite foi noticiada pela imprensa. Receosa com o teor do livro do jornalista, Kika ameaçou vetar a obra antes mesmo de publicada. Sobre essa pendenga, Sylvio Passos diz haver um mal-entendido e acredita num acordo entre as partes.

Glória Vaquer na briga

Mas a ex-mulher desta vez é Glória Vaquer, irmã de um ex-guitarrista de Raul, que hoje assina Sky Keys, vive nos Estados Unidos e representa Scarlet Vaquer Seixas, uma das filhas do artista. Em setembro, representada por um advogado, teria enviado o e-mail para Passos, que decidiu “paralisar tudo como protesto”. Entre outras coisas, dois discos que seriam lançados pela gravadora Eldorado: um ao vivo, em registro inédito de um show, e outro com “gravações caseiras”, também inéditas.

“Raul deixou toneladas de fitas comigo”, diz Sylvio Passos, que conheceu o ídolo no final de 1981, quando Raul rompeu com a CBS, deixou o Rio e veio morar em São Paulo. Ficaram amigos e a convivência prosseguiu até a morte do artista. Criaram juntos a carteirinha do Raul Rock Club – Raulzito era um dos sócios do próprio fã-clube.

Apesar de tirar o site do ar e interromper a produção dos discos, Passos diz que vai continuar trabalhando pelo ídolo e amigo. Uma de suas idéias é criar um memorial do artista em São Paulo. “Isso ninguém pode me impedir”, fala. Mas quer algo público, porque todo o material que possui é doado (por Raul, familiares e amigos). “Não sou dono de nada, sou o mantenedor”, se define.

Outra possibilidade é uma biografia fotográfica, com imagens ainda inéditas capturadas com sua câmera. Como consultor e “faz tudo”, Passos se envolveu no documentário biográfico que a AF Cinema está finalizando sobre o “Maluco Beleza”, previsto para abril de 2010. Depois de alguns anos, a mesma produtora pretende fazer um filme nos moldes do longa sobre Cazuza. O que ele garante é não ficar parado. “Não sou poste, sou Passos”, brinca.

Evandro Matos – Com pesquisas e informações em revistas

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