História

Há 21 anos morria Gonzaga, que cantou as tristezas e alegrias dos nordestinos

Sempre alegre e sorridente, Gonzaga, filho de Exu (PE), foi o grande divulgador da cultura nordestina. Ao longo de quatro décadas, suas músicas alegraram as noites de São João, colocaram o Nordeste em evidência para o resto do país e serviram até para pacificar a região. Como parceiros do Rei do Baião, destaque para a dupla Humberto Teixeira e Zé Dantas.

Por longos anos, as canções de Luiz Gonzaga serviram de elo entre os retirantes nordestinos, em São Paulo, principalmente, e a família que ficou no sertão esturricado. Com o sucesso do rádio, o filho de Januário tocava na alma do povo nordestino com melodias tristes como Asa Branca, Vozes da Seca e A Triste Partida. Fazia a interação, pelo rádio, do sertão abandonado com o Sudeste em franco desenvolvimento.  

Da mesma forma, Gonzaga embalava esse povo sofrido com canções como A volta da Asa Branca, Noites Brasileiras, Olha Pro Céu e São João na Roça. Foi uma majestade, um verdadeiro embaixador do sertão.    

Certa vez, em trabalho de pesquisa pelo sertão nordestino, nos deparamos com um retirante da seca de Uauá, no sertão da Bahia, que fora buscar abrigo em São Paulo pelos idos dos anos 1970. Perguntado sobre o que fazia, logo que chegou no estado do Sul, revelou que ficou desempregado durante vários meses e passou “muita dificulidade”.

Papo vai, papo vem, Gonzaga entrou na conversa. “Ah, moço. Aí era de doer. Quando eu ouvia aquelas ‘musgas’ me dava uma saudade de casa muito grande. Aquela musga mesmo ‘Sem dar o de comer’, eu não aguentava. Tava sem trabalho e viajava todo dia a peis, porque não tinha dinheiro pra pagar o transporte”, disse o ex-retirante, de Riacho de Pedra, em Uauá, com as lágrimas escorrendo nos olhos, referindo-se à música A Triste Partida.  

Por Evandro Matos

   

Morte calou o Sertão

No último concerto de sua vida, dia 6 de junho de 1989, Luiz Gonzaga fez o seguinte discurso: “Quero ser lembrado como sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo. O Sertão, que cantou as árvores, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes e o amor”.

Dois meses depois, dia 2 de agosto, ele faleceu.  Seu corpo foi levado de Recife para Juazeiro do Norte (CE), para se despedir do Padre Cícero. De lá, o corpo veio para Exu (PE), onde foi velado e sepultado. Uma multidão acompanhou tudo ao vivo, pela TV, pelo rádio e pelas bibocas do sertão.

A Vigília Gonzaguiana, que acontece há sete anos no Espaço Alberto da Cunha Melo, é uma forma de satisfazer a vontade de Gonzaga.

Quase todos os sanfoneiros que ao longo do ano participam das rodas de sanfona, promovida no local, estarão lá hoje, quando mais uma vez a memória de Gonzagão é compartilhada, em virtude dos vinte e um anos sem sua presença no cenário da música popular brasileira.

A morte calou Gonzaga, não cala o Rei do Baião é o nome do poema de José Mauro de Alencar, que será lançado em forma de cartão postal pelo Memorial Luiz Gonzaga. A partir das 9h, a música de Gonzagão repercutirá por alto-falantes instalados nos sobrados do Pátio.

A missa começa às 18h. A cerimônia será iniciada com Ave Maria Sertaneja e encerrada com Jesus Sertanejo, ambas na voz do filho de Januário. José Mauro declama seu poema e em seguida começam os shows. O violonista Cláudio Almeida toca o repertório do CD Noites brasileiras, com músicas de Zé Dantas.

Na mesma hora acontece, somente para convidados, evento de lançamento do livro Zé Dantas, segundo a letra I, produzido pela equipe do próprio Memorial, sob direção da pesquisadora Lêda Dias. Em seguida acontecem shows de forró. Outros eventos acontecem em todo o Nordeste, em cidades como Aracaju, Recife, Fortaleza, Arcoverde e Caruaru.

Evandro Matos, com informações do Diário de Pernambuco

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